Clara era uma anja muito amorosa e sensível. Seu voo era tão leve, que muitas vezes sua passagem era confundida com uma suave brisa. Gostava de passear por todos os cantos, levando luz àqueles que precisavam. Sua luz era carregada numa pequena vela, de chama infinita, que nunca apagava. Clara podia acender quantas velas quisesse, que a chama continuaria acesa em sua vela especial.
E assim, Clara passava de vilarejo em vilarejo, aproximando-se daqueles que a chamavam, e acendendo novas velas, sempre com sucesso. Cada pessoa que ela visitava precisava de luz em um tipo de vela. Alguns precisavam acender a vela da gratidão, outros da compaixão, e ainda outros da abundância… Mas a luz era sempre a mesma.
Um dia, em seus passeios, sentiu a presença de um conjunto de velas muito grande: velas pequenas e grandes, finas e robustas, de várias cores. Todas, porém, estavam apagadas. Neste local morava um homem com um coração muito bom, mas que passou por muitas decepções na vida, e assim optou por apagar todas as suas velas. Assim – decidiu – não passaria mais pelo sofrimento de ter uma vela especial apagada de uma hora para outra. E assim ele seguia, dia a dia, sempre controlando para que nenhuma nova luz chegasse até suas velas.
Foi assim que Clara o encontrou. Imediatamente, quis aproximar-se para acender tão belas velas, mas o homem, pego de surpreso, reagiu com um olhar que não encorajava qualquer aproximação. E assim a doce anja parou à uma certa distância. E aguardou.
O homem, acostumado com eventuais tentativas como essa, ficou atento, mas pacientemente também aguardou, até que ela desistisse e fosse embora, como tantos outros. Mas um dia inteiro passou e Clara não foi embora. Nem no outro dia, nem na outra semana. E para surpresa do homem, nem no outro mês. E aos poucos, bem aos poucos, o homem se acostumou com aquela presença suave, e com aquela pequena luz que brilhava com ela, mesmo que à uma certa distância. E passou a acordar com mais tranquilidade, ao ver que a anja ainda estava lá. Espiava, de soslaio, enquanto ela dormia, mas disfarçava quando ela estava olhando.
Um dia, ao acordar, como de praxe, procurou a anja. Por um breve momento, não a viu, e um desespero começou a brotar de dentro do seu peito. Mas então notou que ela estava apenas um pouco mais para o lado, do local usual. Seu alívio foi imediato. Pela primeira vez, no entanto, pensou que talvez ela não ficasse lá para sempre, que talvez desistisse desse homem que nada oferecia em troca. Não podia mais imaginar sua vida sem aquela pequena luz, e começou a pensar no que fazer.
– Talvez – pensou – se eu acender uma das minhas velas menores, ela sinta-se mais confortável em minha companhia e queira ficar mais.
Assim, quando a anja dormiu, ele preparou um longo bastão com a menor de suas velas na ponta. Esticou o bastão com cuidado, e acendeu a sua vela com a luz da vela da anja, e a trouxe de volta para si. Ele não sabia, mas acabara de acender a vela da esperança.
No dia seguinte, ao acordar, Clara notou a pequena vela acesa, seu coração aqueceu-se, mas ela nada falou. E mais alguns dias se passaram. O homem começou a gostar da pequena vela ao seu lado, e quanto mais se acostumava com a pequena luz, mais se admirava com a perseverança da anja de luz. Notara o sorriso dela ao ver sua vela acesa, mesmo que nenhuma palavra tenha sido trocada.
Decidiu, então, acender outra vela, só para ter mais um sorriso da anja. Novamente, aguardou até que ela dormisse, usou seu longo bastão, e acendeu sua segunda vela. Era a vela da coragem, e ela ficou ao lado da vela da esperança.
No dia seguinte, aguardou Clara acordar, e seu coração sentiu algo diferente, ao notar seu sorriso por mais uma vela acesa. Já não podia mais esperar dias, e quis acender uma nova vela no dia seguinte. Foi então que a terceira vela foi acesa, a vela da gratidão. Já sentia-se próximo daquele ser tão leve, que nada lhe pedia, e assim, cada vez mais ele desejava dar. E todos os dias, sempre à noite enquanto a anja dormia, o homem acendia com o bastão suas outras velas: compaixão, aceitação, liberdade, confiança…
O Homem, então, já com o coração leve, olhou para a vela mais bonita que tinha. Aquela, a que mais tentou proteger na sua vida. Pegou-a com as duas mãos. Era uma vela especial. Não queria utilizar o bastão, já tinha coragem e confiança suficiente. Essa era o tipo de vela que só podia ser acesa pessoalmente. Levantou-se, e aproximou-se da anja. Estendeu sua vela, e permitiu, pela primeira vez, que Clara a acendesse. Era a vela do amor.”
– Mirela Fioresy
Carta da Leitura de Tarot que originou o conto “O Homem e a Luz”, Contos Ciganos de Tarot, por Mirela Fioresy. Conto inspirado pelos Ciganos, durante leitura real de tarot. Tarot: Angel Therapy Oracle Card, Por Doreen Virtue, versão em Russo.
Contos de Tarot são leituras de Tarot personalizadas, que trazem respostas e reflexões para questões enviadas pelo consulente, na forma de um Conto exclusivo. Apesar de serem criados como uma mensagem especial para quem solicitou a leitura, são contos que trabalham com imagens e conceitos do inconsciente coletivo da humanidade, trazendo também reflexões para todos nós.
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